Era uma vez...
à muito muito tempo, no principio de tudo, na origem, na criação da essência, foi expelido para o vazio uma partícula magnética, em permanente e constante combustão, carregada de calor e ávida por crescimento.
Esta ânsia de crescer, de ser maior, de ser perfeita fez com que direccionasse toda a sua energia e força magnética em determinadas direcções do vácuo. Começou por apontar para o mesmo lado de onde tinha nascido. Absorveu tudo o que pôde, até onde pôde alcançar. Absorveu sólidos, líquidos, gazes... seres inanimados, vivos, indefinidos....
No inicio não soube conter a sua força, o seu poder, tudo o que ía absorvendo ía, ao mesmo tempo, consumindo, transformando, foi acumulando em si, em combustão. em determinado momento aprendeu a conter a sua essência de fogo, a canaliza-la para determinado lado, servindo esta habilidade para, num curto período de tempo, possibilitar o arrefecimento e acumulação dessas matérias que até então serviam apenas como alimento. agora sim estava a crescer e a ficar cada vez mais bela. sabia que havia absorvido muito, ao longo de muitos anos, sabia que havia enriquecido o seu interior, sabia que mostrava beleza aos que de longe a observavam e que conseguía agora discernir pois também ela era agora enorme. conseguía ver para muito além do que quando havia nascido. conseguía ver pelo menos alguns pontitos que de certa forma a atraiam, mas que por também lhe assustar as suas dimensões, optou por não interferir com eles, deixa-los quietinhos, e passou a centrar todas as suas atenções em si mesma.
moldou-se por intermédio de forças externas a si, voltava-se com maior ou menor brusquidão, talhava montes e vales, pelos quais fazia jorrar pequenos e límpidos cabelos de água, repletos de vida.
Era azul Ciano, , era magenta e era amarela.
Como gostava de si mesma!
decidiu então, por si mesma, por si só, brincar, jogar, misturar, criar, inventar!
começou pelas cores. misturou tudo, todas. obteve infinitas combinações, infinitos tons...espalhou-os sobre si mesma.
Maravilhosa! Estava esplêndida!
Decidiu então começar a mudar coisas, aleatoriamente mas, à medida que se ía embrenhando nessa tarefa começou a dar-se conta que começava a perder a memória, a esquecer-se da sua origem, do que teve que fazer para alcançar o seu estado actual.
ao dar-se conta deste facto, e porque era a única informação que ainda retinha sobre tudo o que havia feito, decidiu fazer um rascunho, um auxiliar de memória sobre as cores que originaram a sua pintura. como simplesmente adorava a sua forma equilibrada, arredondada, seria também essa a forma que teria essa sua criação. mas não podia ser um circulo completo! não podia ser igual a si mesma! tinha que ser inferior, talvez metade, deu-lhe a forma de um arco, semi-circular. Compilou o azul, o magenta e o amarelo e fê-los deambular sobre a sua superfície.
mas como fazer quando se quisesse referir a esse rascunho?
decidiu dar nomes às coisas. ao rascunho, e para começar, ás cores chamou-lhes primárias, ao conjunto chamou Arco-íris. estava cada vez mais satisfeita com as suas criações, surpreendida consigo mesma, com que poder, com que determinação se ía transformando, ficando cada vez mais preenchida e satisfeita. quis saber até onde poderia ir esta sua capacidade, esta habilidade de criar. Construiu, construiu, criou, nomeou, criou, construiu, construiu. Quando se deu conta do resultado obtido,tantas transformações que se havia operado em todas as suas camadas, desde a mais interna até à mais superficial, não gostando mesmo nada do que se havia tornado, decidiu recorrer a todas as forças que lhe restavam, abanou-se, tremeu, expeliu o seu interior, engoliu o seu exterior, afogou-se, secou-se, ...
Esta foi talvez a ultima mas igualmente importante lição que aprendeu sobre si mesma! ficou a saber que quem cria algo tem também o poder de o destruir! sabia que guardava em si também essa capacidade, que a podia utilizar sempre que não estivesse satisfeita com algum resultado final de alguma das suas obras.
decidiu começar tudo de novo, mas prometeu a si mesma que o iria fazer de uma forma mais contida, mais racional, mais equilibrada, mais semelhante à sua essência: regrada! ponderada! poderosa! simples!
...continuo um dia destes!